LINGUAGENS

Na majestosa casa que agora volta a contar e ostentar toda a beleza de sua história e arquitetura, sem ter nenhum de seus capítulos cobertos por tinta, pressa ou gesso, muitas gerações de artistas foram forjadas e formadas, sob os aplausos de heterogêneas, numerosas e calorosas plateias, que sagraram o Teatro do Parque como unanimidade entre audiências de todos os estilos e preferências estéticas, idades e perfis socioeconômicos.

Em seus salões e ao céu aberto de seu jardim, que reforça o simbolismo e a força do equipamento que se faz clareira aberta em meio ao adensamento urbano do centro, o Parque é moldura indefectível da história de quase todo recifense e palco onde o Recife aprendeu muito do que sabe sobre artes cênicas, cinema e música.

Ao longo de sua longa existência, tantos grandes espetáculos e artistas de todo o país e até de outros países subiram ao palco do Teatro, dedicado também à música e ao cinema, mas devotado principalmente ao público, tendo adotado sempre a política de preços populares como uma estratégia infalível de atração e formação de plateias. 

Cênicas 

Inaugurado pela Companhia Portuguesa de Operetas e Revistas do Teatro Avenida, de Lisboa, na noite de 24 de agosto de 1915, com a apresentação da revista de costumes O 31, de Luís Galhardo, o Parque sagrou-se um dos mais concorridos palcos da cidade para montagens de todos os tamanhos.

Concebido para ser palco de teatro de revista, o Parque não demorou para ampliar seu repertório cênico. “Grandes companhias brasileiras passaram pelo palco do Teatro do Parque, como as de Vicente Celestino e Alda Garrido; e foram encenadas lá as primeiras peças da famosa dupla Samuel Campelo e Valdemar de Oliveira”, registra a pesquisadora Semira Adler Vainsencher, da Fundação Joaquim Nabuco. 

No início da década de 60, o Parque emoldurou ainda, em sua grandeza de casa centenária e generosa, que acomodava quase mil pessoas em sua plateia, um importante marco das artes cênicas pernambucanas, nordestinas e brasileiras: estreia do Teatro Popular do Nordeste (TPN), precioso legado de Hermilo Borba Filho, que fundou uma dramaturgia genuinamente nordestina. Lá, foram realizadas as duas primeiras de muitas apresentações do grupo.

Na década de 1990, o Parque consolidou sua vocação para programações variadas e a preços populares para públicos sempre numerosos. Cumprindo temporada de dois anos e meio, o espetáculo arrasa quarteirão Cinderela: A história que sua mãe não contou, da Trupe do Barulho, foi um dos maiores sucessos de bilheteria da casa, motivando a formação de filas que até hoje figuram entre as maiores que o Parque já registrou.

Jornal Diário de Pernambuco, 24 de Agosto de 1915.


Música 

Janela aberta para a arte e para o verde em meio a uma das áreas mais adensadas da cidade, o Teatro do Parque sempre foi música para os ouvidos recifenses. Desde sua criação, o Parque foi palco de grandiosas apresentações, além de competições como o Festival Nordestino de Música Popular, ainda nos idos de 1960, quando os festivais eram uma importante vitrine da produção musical brasileira.

Belchior, Amelinha, Jackson do Pandeiro, Paulinho da Viola, Toquinho, Alceu Valença, Chico César, além dos mais contemporâneos Chico César, Chico Science e Nação Zumbi e Cordel do Fogo Encantado estão entre as tantas gerações de atrações que deixaram seu nome registrado na longa história que o Parque tem para contar. Foi no palco do teatro que o unânime Gilberto Gil fez seu primeiro show após o exílio, no ano da graça de 1972.

                                                 

O ainda muito jovem compositor Gonzaguinha, herdeiro do baião, e Marlene Baião também soltaram a voz no Parque, durante a vigência do Projeto Pixinguinha, um dos maiores sucessos de público da casa.

Sucesso maior, só o Projeto Seis e Meia conseguiu registrar, apostando num tripé infalível de fatores: grandes atrações, preços populares e horário estrategicamente  pensado para atrair o trabalhador do centro ao final do expediente.

Mais que palco cativo, para a Banda Sinfônica do Recife, o teatro sempre foi casa, sediando apresentações e ensaios.

Cinema

Ainda em seus primeiros anos de funcionamento, o Parque passou a exibir filmes do cinema mudo, que eram acompanhados por trilha sonora feita ao vivo, por músicos como Nelson Ferreira, que mais tarde viria a se sagrar um dos mais importantes compositores e maestros do Frevo. 

No final da década de 20, após a grande requalificação de 1929, o Parque foi arrendado pelo grupo Severiano Ribeiro, aderindo ao cinema falado e atraindo numerosas plateias para filmes da Disney e algumas chanchadas brasileiras.

Em 1973, a partir de um convênio entre a Prefeitura do Recife e o Instituto Nacional do Cinema, o Parque vira o primeiro cinema educativo permanente do Brasil, passando a exibir filmes que não faziam parte do circuito comercial.

Também na década 1970, o Parque abraçou o celebrado Ciclo do Super-8 pernambucano, exibindo a preços populares as produções de Geneton Moraes Neto, Fernando Spencer, Jomard Muniz de Brito e Kátia Mesel, entre outros. Também inesquecível, a política de filmes a R$ 1 levou grandes produções, como Cidade de Deus, e plateias maiores ainda para o Parque.

O Parque sediou ainda, por vários anos, a mostra competitiva do FestCine - Festival de Curtas de Pernambuco -, realizado pelo Governo de Pernambuco e Prefeitura do Recife, além de sediar diversas outros festivais e competições do audiovisual, sendo palco constante para experimentações e novidades produzidas pelas gerações de profissionais que viriam a projetar o cinema pernambucano como um dos mais promissores do país.

A casa é também e principalmente sede da Filmoteca Alberto Cavalcanti, que reúne muitas décadas da produção audiovisual pernambucana.

A tudo isso, soma-se agora um maquinário cênico de primeira linha: de projetor de cinema 4K a som e sistema de refrigeração digitais para que o Parque possa contar muitos séculos mais de história na telona.

Jornal do Commercio, 03 de dezembro de 1973


Dança

O palco do Teatro do Parque também sempre esteve devotado a todos os movimentos e gerações da dança pernambucana. Foi lá que aconteceram os primeiros festivais de dança do Recife, realizados pela Prefeitura do Recife e produzidos por Luís Tamashiro, Andréa Carvalho e Mônica Lira, consolidando e revelando grupos como a Cia Compassos de Dança, Cia dos Homens, Cia Vias da Dança e Grupo Experimental. 

Dos grandes grupos e nomes nacionais, vários já pousaram as sapatilhas na casa de espetáculos mais verde da cidade. Entre os que apresentaram sua sensibilidade e perícia por lá estão artistas e grupos do quilate de Ana Botafogo, Carlinhos de Jesus, Daniela Severian, Balé Stagium, Balé Cisne Negro, Henri Neto, Steven Harper, Marcelo Pereira e Cecília Kershe. Agora segue o baile.                                                                                                                 

  


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